domingo, 24 de maio de 2009

Houellebecq (duas traduções minhas)

“Seja destruído tudo o que tiver brilho.”

Os habitantes do Sol lançam sobre nós um olhar
[impassível:
À Terra pertencemos definitivamente
E aqui apodreceremos, meu amor impossível,
Jamais se tornará luz nosso corpo doente.



Garota

A garota de cabelos negros e lábios muito finos,
De quem tudo sabemos sem jamais tê-la encontrado
Além de nossos sonhos, pinça com gadanhos aquilinos
As tripas palpitantes de nosso ventre arrebentado.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Por que o simples ato de lavar as mãos matou um grande médico mas nos deu um dos grandes escritores do século passado.

Dr. Semmelweiss
Para evitar o contágio pelo vírus H1N1 recomenda-se, entre outras coisas, o simples ato lavar as mãos. Mas saibamos que tal ato higiênico, aceito sem grandes questionamentos hoje, já foi em outros tempos motivo de muita dor de cabeça e muita loucura. Sobretudo para o húngaro Ignaz Semmelweis. Foi ele, jovem médico nos meados do século XIX, quem deu os primeiros passos na luta contra as infecções (nesse caso, bacterianas) mesmo sem saber ainda que se tratava de “doenças causadas por microrganismos”. Ele foi a primeira pessoa de que se tem notícia a valorizar a importância de se lavar as mãos. O procedimento por ele idealizado foi a pedra fundamental para o início do processo de controle de contaminação em hospitais. O médico percebeu que o número anormal de mortes em recém-nascidos, numa das alas do Hospital Geral de Viena, era devido à transferência do que ele denominou de “partículas putrefeitas”. A transferência se dava pelas mãos dos médicos que realizavam necrópsias e também atendiam aos partos. Dr.Semmelweis obrigou seus alunos a seguirem um rigoroso procedimento de higiene das mãos, reduzindo drasticamente a mortalidade dos recém-nascidos. Apesar dos resultados, a situação provocou uma série de discussões, críticas e maledicência entre os colegas de Semmelweis, que se opuseram à sistemática de higiene imposta, o que levou o jovem médico a abandonar Viena e a regressar à Hungria. Porém, nem em seu país a vida se tornou mais fácil. Semmelweis não sabia que o eco dos tumultuosos acontecimentos de Viena havia chegado até ali. Os distúrbios mentais, de que sofria, começaram a ficar cada vez mais graves. Até que um dia, num repentino acesso de ira enquanto fazia uma necropsia, se feriu numa das mãos e, tal como com o seu amigo Kolletschka, a infecção daí resultante disseminou-se tão rapidamente pelo braço que Semmelweis veio a falecer por conta do ferimento. (fonte: http://www.sbcc.com.br/revistas). Essa história do médico húngaro também pode ser encontrada num dos livros, aqui recomendado, de um dos grandes autores da literatura ocidental, o francês Louis-Ferdinand Destouche, pra quem não sabe: simplesmente Céline. O livro A vida e a obra de Semmelweis (Cia. da Letras) foi tese de doutorado do escritor defendida na faculdade de medicina de Paris, em 1924. Antes de morrer, Céline confessou que foi essa tese que lhe deu a idéia de se tornar escritor. Vejam só: por causa do ato de lavar as mãos, perdemos o gênio Semmelweis, ganhamos da febre puerperal, estamos empatando com a gripe suína (até agora), mas sobretudo, enfim, ganhamos um grande escritor (deixando de lado suas apologias ao anti-semitismo, é claro).

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Um crônica do Karam

Fluke e a crítica da ração pura

10 Ago 2007 - 03:07

CRÔNICAS DE ALHURES DO SUL

Por Manoel Carlos Karam

Lidas pelo autor na BandNews FM 96,3 às segundas-feiras, entre seis da tarde e sete da noite, e na terça-feira de manhã - ou a qualquer momento em edição extraordinária.
(6 de agosto de 2007)


Eu não sofro de dog walkers elbow.
Esta doença é a dor que sentem no cotovelo aqueles que levam os cães para passear.
Passeio com o meu cachorro conduzindo o meu amigo pela coleira, mas não tenho dores no cotovelo.
Fluke, este é o nome do meu cachorro, nunca faria tal coisa comigo.
O escritor Paulo Sandrini descobriu que o meu cachorro é filósofo.
E que escreveu o livro “Crítica da ração pura”.
O filósofo Roberto Gomes, autor da “Crítica da razão tupiniquim”, aprovou com um sorriso.
E descobriu-se ainda que o cachorro-filósofo é também cachorro-romancista.
Segundo a jornalista Katia K, ele escreveu “Ração e sensibilidade”.
Enfim, tenho mais chances de sofrer dores no cotovelo virando páginas de livros de filosofia e romances do que levando o cachorro para passear.
Dog walkers elbow.
Sofrem dores no cotovelo muitos daqueles que levam cães para passear.
Mas dor-de-cotovelo é outra coisa.
Além de ser outra coisa, escreve-se com hífen.